Precisava de um cantinho pra mim, onde eu pudesse me expressar de todas as formas, sem censura ou regras. Ao mesmo tempo em que desejo guardar a sete chaves, sinto a necessidade de publicar minhas idéias, de olhar e admirá-las, mesmo se muitas não forem belas.
Pois bem, bastou uma caneta, uma folha branca e algumas aulinhas de português, para começar a surgir pequenos textos. De inicio meu nome, já sabia escrever meu nome, isso comovia meus pais, amigos, e me exaltava o ego. Depois para cartinhas dos dias das mães ou dos pais: “você é a flor do meu jardim”. Mais tarde para cartão de aniversário: "Parabéns, felicidades...!”. E surgiram logo após poemas, alguns textinhos e redação de escola. E por um instante resolvi parar com toda essa “babaquice”, esses momentos melancólicos, ou de um simples “Parabéns da sua professora Teteca”. Queria mais dessas palavras, queria mais das folhas brancas e das canetas. Surgia assim um indivíduo com necessidades de escrever por si mesmo, de usar do pouco que aprendeu, uma forma de alivio. Já estava me achando estranha com isso tudo, algo desconhecido pra mim até então, queria parar de querer mais e mais. Não conseguia desabafar com ninguém, estranho isso né? Amigos eu tinha, e com eles só conseguia compartilhar a alegria, e os momentos ruins que todo mundo passa? Guardava para mim. Até que explodi, e quem foi o alvo dessa explosão? A folha branca. Foi assim que comecei a realmente escrever.
Escrevia sobre mim, sobre o que eu sentia, queria, desejava e sonhava. E isso foi tornando-se um vício, uma forma de alivio imediato, foi como se uma pedra que eu carregava há anos saísse de mim.
As coisas que escrevia eram reservadas, escondidas, o medo de alguém achar e me considerar a parte dos demais, ser taxada como “A esquisitinha” ou algo do gênero me assustava muito. O medo que as pessoas soubessem do que eu me sentia, do que eu era por dentro. Mas logo isso foi resolvido, li meu primeiro texto a uma pessoa que confiava: minha irmã! Foi o suficiente para me sentir “a tal”, ela elogiava e elogiava, e dizia que isso era ótimo para mim, tanto como forma de libertação, como também o desenvolvimento com a gramática. Não parei mais, mostrei para os meus pais, e eles repetiram as mesmas palavras. E isso me dava força para escrever mais, e sobre mais coisas, e de publicá-las, de tal maneira que as pessoas me conhecessem realmente.
De inicio não conseguia escrever sobre política, economia, moda, ou acontecimentos do dia-dia, era egoísta mesmo, escrevia só sobre mim. Mas parei com isso, afinal eu sabia que o mundo não era só meu umbigo, era uma dimensão muito maior, e se eu vivo nele, preciso ter minha opinião sobre ele, do que era bom e ruim, do que precisava melhorar ou continuar na mesma. Fui intrometida em muitos aspectos, escrevia sem parar, dava meus “pitis” em tudo, tirava conclusões ali e acolá. Tentava absorver dos meus ídolos da literatura o máximo. E escrever me dava vontade de ler.
Aqui estou, pronta para me desabafar. O cantinho não poderia ser melhor que este. Diários, cadernos já não davam mais conta.